Por: Jonathan Haidt
Texto original: “Why progressive professors should join Heterodox Academy, especially now“
A inesperada eleição de Donald Trump criou incerteza e novos desafios para a maioria dos grupos socialmente engajados. A Heterodox Academy não é diferente; testemunhamos duas tendências contraditórias no mês passado:
- Mais críticas de pessoas de esquerda que dizem que agora, mais do que nunca, o nosso trabalho contribui para a agenda da direita, pois a HxA valida sua afirmação de que as universidades pendem para a esquerda e são tendenciosas contra conservadores.
- Mais apoio de pessoas de esquerda que dizem que agora, mais do que nunca, os alunos e professores de esquerda devem escapar das suas bolhas e se expor a uma maior diversidade de pontos de vista.
Eu acredito que ambas as respostas estão corretas, mas dentro de prazos diferentes. O trabalho da HxA dá à direita um impulso tático de curto prazo. Eles podem dizer: “Viu? Nós dissemos! As universidades são partidárias!” Esses impulsos dão uma sensação ótima, e é por isso que nosso trabalho recebe mais cobertura em publicações com tendências de direita do que em publicações com tendências de esquerda. Se você é um professor progressista que está principalmente preocupado com contenção de danos esse mês, não entre para a HxA.
Mas, se você é um professor progressista que quer fortalecer a esquerda a longo prazo, aumentar a credibilidade e os fundos federais das universidades numa época de dominância republicana e melhorar a confiabilidade da pesquisa da qual quase toda reforma progressistas depende, então agora, mais do que nunca, é a hora de entrar para a HxA.
Aqui está o argumento para entrar e apoiar a Heterodox Academy, empreendida por quatro vozes proeminentes da esquerda.
1) Nick Kristof
Kristof escreveu algumas colunas para o New York Times em maio sobre o argumento moral e educacional para a diversidade de pontos de vista. Em Uma Confissão de Intolerância Liberal ele escreveu:
“O que está em jogo não é apenas o tratamento justo para conservadores ou cristãos evangélicos, não apenas se progressistas serão fiéis aos seus próprios valores, não apenas os benefícios que advêm da diversidade (e a diversidade de pensamento está indiscutivelmente entre os tipos mais importantes), mas também a qualidade da própria educação. Quando perspectivas estão sub-representadas nas discussões, quando alguns tipos de pensadores não estão à mesa, as salas de aula se tornam câmaras de eco em vez de laboratórios intelectuais — e nós todos perdemos com isso”.
Kristof ficou surpreso pela intensidade e uniformidade das respostas dos leitores progressistas, que escreveram coisas como “não se diversifica com idiotas”. Em resposta, Kristof escreveu uma segunda coluna, na qual ele descreveu três bons motivos para as universidades serem mais acolhedoras não apenas para mulheres e negros, mas também para conservadores”.
- A) “A estereotipagem e a discriminação são erradas, quer sejam contra gays ou muçulmanos, ou contra conservadores ou evangélicos”.
- B) “Existe evidência abundante dos benefícios da diversidade. Trazer membros das minorias não é um ato de caridade, mas uma forma de fortalecer uma organização… É claro, atingir a diversidade é um processo frustrante, mas enriquece as organizações e melhora as tomadas de decisão. Então, além da diversidade étnica, busquemos a diversidade ideológica também”.
- C) “Quando acadêmicos se agrupam na extremidade esquerda do espectro, eles marginalizam a si próprios. Precisamos desesperadamente de acadêmicos como sociólogos e antropólogos para influenciar as políticas públicas americanas em questões como pobreza, mas quando esses se encontram apenas na órbita esquerdista, seus conhecimentos frequentemente não são explorados”.
2) The Harvard Crimson
Três dias após a eleição, os editores do principal jornal estudantil de Harvard publicaram um editorial intitulado O Elefante e o Homem em Harvard. Começaram ao notar os resultados de uma pesquisa pré-eleição de alunos da Harvard, que indicavam que aproximadamente 70% se identificavam como esquerdistas e apenas 13% como direitistas. Apenas 6% disseram que votariam em Trump – muito abaixo dos 35% dos Millenials que o fizeram nação afora. Eles escreveram que “a pesquisa aponta para uma escassez generalizada de diversidade ideológica que deveria preocupar igualmente os docentes, administradores e alunos, especialmente nesse ponto na nossa história”. Aqui está o argumento-chave deles:
“Mas quando a desconexão atinge essas proporções, a diversificação da expressividade política em todos os ambientes deveria se tornar uma prioridade administrativa. A busca da “Veritas” que sustenta nossa vida intelectual exige não apenas que cada membro da nossa comunidade possa debater livremente a política, mas também que demos atenção à multiplicidade de visões políticas que existem em nossa nação. Impedir essa discussão no campus é um desserviço para nossos colegas que são minoria política do campus e para nosso próprio crescimento educacional.
Na mesma linha, os administradores e os docentes devem tomar providências para assegurar que alunos de todas as orientações políticas se sintam confortáveis em expressar suas ideias, especialmente na sala de aula. Concretamente, esse esforço provavelmente envolverá um incentivo ativo à divulgação de visões diferentes e a eliminação de expressões desnecessárias e impróprias de favorecimento político por parte dos professores. Garantir que mais professores conservadores ensinem nas áreas em que existe clara inclinação progressista, como nas ciências humanas, também é crucial”.
3) Nature
Na sequência da eleição, os editores de Nature publicaram um editorial intitulado: A academia deve resistir ao viés de confirmação política. Os editores explicaram que “É crucial combater a discriminação em todas as suas formas, mas também não é útil excluir as vozes conservadoras do debate”.
Eles reconheceram que “o viés de confirmação está presente em todas as esferas da vida, incluindo na prática da pesquisa e nos pontos de vista políticos dos acadêmicos progressistas”. Ninguém deve se iludir achando que é imune”. Os editores notaram especificamente a urgência de se compreender os movimentos populistas contemporâneos (que estão tentando reverter avanços progressistas ao redor do mundo) e disseram que os “cientistas sociais precisam participar da discussão mais firmemente para informar o debate público e desafiar vigorosamente os mal-entendidos — de todos os lados”.
4) Barack Obama
Em um fórum sobre educação em 2015, o Presidente ofereceu uma linda reflexão sobre a importância da diversidade de pontos de vista:
Vejam, a finalidade da faculdade não é apenas… transmitir habilidades. Também é ampliar seus horizontes; tornar você um cidadão melhor; ajudar você a avaliar informações; ajudar você a trilhar seu caminho no mundo; ajudar você a ser mais criativo. A forma de fazer isto é criar um espaço no qual muitas ideias são apresentadas e entram em conflito, e as pessoas argumentam e testam as teorias umas das outras e, com o tempo, as pessoas aprendem com as outras, pois estão saindo do seu ponto de vista estreito e tendo acesso a um ponto de vista mais amplo.
* * * * *
Todos esses autores entendem que o crescente domínio numérico da esquerda na academia tem sido uma vitória pírrica. John Stuart Mill explicou isso bem em On Liberty:
“a única maneira de um ser humano conseguir aproximar-se do saber total de um assunto é ouvindo o que pode ser dito sobre ele por pessoas com todos os tipos de opinião e estudando todos os possíveis modos de ele ser visto por todos os tipos de mentes. Nenhum sábio jamais adquiriu sua sabedoria de outro modo além desse; nem está na natureza do intelecto humano tornar-se sábio por qualquer outra maneira”.
Quando a ortodoxia política suprime a discordância, é o grupo dominante que sofre as maiores perdas. Na verdade, um artigo de 2005 no New York Times sobre a educação do Juiz da Suprema Corte John Roberts mencionou que o domínio da esquerda em Harvard pode ter criado conservadores mais fortes e progressistas menos capazes: “Os conservadores em Harvard [disse Norquist] aprenderam a ser mais ‘hábeis do que qualquer outra pessoa’. Diferentemente dos alunos de esquerda, disse ele, eles estavam sendo desafiados constantemente”.
Então, se você é um professor aborrecido com o recente sucesso eleitoral da direita – em múltiplos níveis do governo e em muitos países além dos EUA – entre para a Heterodox Academy. Una a sua voz às de 300 colegas que se comprometeram a acolher e apoiar a diversidade de pontos de vista. Juntos podemos melhorar a vitalidade das nossas universidades, a qualidade das nossas pesquisas e a prontidão da próxima geração para aceitar os desafios da cidadania democrática numa nação dividida. Em longo prazo, isso prejudicaria a esquerda ou a ajudaria?
Pós-escrito: No dia após a publicação desse ensaio, a coluna de Kristof voltou a abordar esse tópico: Os Perigos das Câmaras de Eco nos Campi. Extrato: “Compartilho das apreensões sobre o Presidente eleito Trump, mas também temo que a reação tenha sido evidência do quão insulares as universidades se tornaram… A falta de diversidade ideológica nos campi já é um desserviço aos alunos e ao progressismo em si, com o progrssismo se degenerando em autoparódia em alguns campi…. Seja qual for a nossa política, habitar uma bolha nos torna menos palatáveis”.
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